Entre o silêncio dos bons e o grito dos maus - por Givaldo Matos

Entre o silêncio dos bons e o grito dos maus

Árvores frutíferas omissas e espinheiros dispostos

Givaldo Matos

Professor no curso de Direito na Unigran e de Teologia na Faculdade Teológica Batista Ana Wollerman

É conhecido o ditado popular de que ‘todo povo tem o governo que merece’. Há algo verdadeiro nesta frase: somos parcialmente responsáveis pelas ações de nossos governantes.

O pastor batista Martin Luther King, defensor dos direitos civis na segunda metade do século passado, denunciaria isto em sua luta: "O que me preocupa não é o grito dos maus, dos sem caráter. O que me preocupa é o silêncio dos bons”.

Esta preocupação já havia sido destacada nas Escrituras Sagradas, em uma de suas mais contundentes narrativas: a Parábola de Jotão (Juízes 9:8 a 15). Inicialmente elaborada para combater os abusos da monarquia israelita, ela nos alerta hoje para o perigo da indiferença e do distanciamento da política.

Na parábola, Jotão, um líder popular, narra o encontro das árvores de um bosque que, sentindo a necessidade da organização social, resolveram estabelecer um líder entre elas. Foram às três melhores alternativas da floresta: a oliveira, a figueira e a videira, três árvores que tinham muito para colaborar, e pediram: ‘reinem sobre nós’.

Estas árvores, no entanto, estavam tão concentradas em seus afazeres que rejeitaram o convite. “Estamos ocupadas”, disseram elas. De fato, política é coisa séria e exige comprometimento. Não queriam ‘fazer por fazer’ ou ‘fazer mal feito’. Mas, se não elas, quem o faria?

Subsistindo a necessidade de administração social, as árvores foram em direção ao único candidato que restara, um grande espinheiro, e pediram: “Governa sobre nós, dirija nossas causas e nossas questões”. O espinheiro, alegremente disse: “Então venham e se escondam debaixo de minha sombra”.

Amarga sátira: que tipo de sombra produz um espinheiro? Que tipo proteção pode ter quem abraça um CACTO DO DESERTO?

Já atravessamos momentos em que espinheiros governaram sobre nós. Mas, o que dizer daquelas pessoas que, de tão íntegras que são, não se dispõem a participar da vida política?

Agir desta forma é abrir mão de um poderoso instrumento de transformação social. Deste distanciamento e indiferença é que nascem as inúmeras mazelas sociais que hoje enfrentamos. Mais ainda, abre portas para o pior de todos os bandidos, para o político vigarista, como denunciaria Bertolt Brecht.

Nestas eleições, envolva-se politicamente! Tire os espinheiros da vida pública e devolva-os ao deserto. Eleja pessoas comprometidas com as necessidades humanas e que, pela capacidade, experiência e ética, podem contribuir para mudanças tão necessárias em nossa cidade e país.



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